terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Era uma vez uma avó

Era uma vez uma pequena avozinha que ficou tão feliz em saber que seria avó.
Era uma mulher que sempre acreditou no mundo dos sonhos, cheio de brincadeiras, e muitas cores.
Para ela , não importava se estava com dia chuvoso, nublado, acinzentado, ela poderia imaginar um mundo novo, bailado na mais linda melodia do amor.
As histórias encantadas a fascinavam.
Tinha que ter príncipes e princesas, monstros e fadas, e não podia faltar um riacho bem lindo com uma linda cachoeira.
Tudo era tão encantador!
Havia uma casa no campo, cheia de flores, as mais belas, e para ela as margaridas eram as principais.
Sabem por que? Porque elas te levavam para seu jardim, o jardim da sua infância. Havia um balanço de aço que seu pai construiu. Ela gostava de balançar nele, bem alto , sentir o vento tocar seus cabelos enormes, e aquela brisa tão deliciosa acariciar sua face.
Ao saber que seria avó, tudo voltou na sua mente, como gostaria de fazer sua netinha sentir essas sensações tão instigantes. 
Cada dia que passava, mais sentia vontade de criar coisas para sua netinha. 
Dos retalhos de tecidos saiam sonhos.
Foram tantos sonhos lindos!
E como ela gostava de histórias encantadas, de repente surgiu a bruxa malvada. 
Os sonhos foram arrancados de seu coração.
Tudo o que a avó mais queria era viver com sua filha esse momento maravilhoso da vida.
Mas a vozinha, não era bem vinda como ela queria ser.
Não é drama, é fato.
Os meses foram passando, e a sensação de viver esse sonho, foi escorrendo por entre os dedos.
A maldosa bruxa, foi ficando cada vez mais má.
Parecia que a avó tinha feito tudo errado.
O que estava acontecendo , Deus! Por que sua filha estava tão diferente, parecia que ela não significava mas nada.
Sua filha não queria nenhuma semelhança com o que ela viveu.
Afinal, a vozinha não sabia educar, não era permitido sentir , nem tocar, nem mesmo bailar. 
Neste mundo de hoje, os jovens adultos acham que sabem de tudo.
Mas são apenas iludidos por essas certezas que esse mundo traz.
As histórias de vida que sua mãe passou, mesmo cuidando de três filhos, lindos por sinal, não importava.
Ou até mesmo importava, somente quando a filha queria.
Com o tempo, a maldade já estava em todo lugar.
Perderam a noção do que era importante.
Achavam que o mundo era apenas entre os três.
Esqueceram do que estava em volta.
E a vozinha, com todo amor que sentia no coração foi ficando apagada, sem cor.
Suas histórias não valiam mais a pena.
Afinal, não sabia educar, era assim que a filha dizia.
O tempo foi passando, e a vozinha foi ficando cada vez mais transparente.
Até se tornar invisível.
A filha não enxergava mais nada.
O coração virou pedra.
Então...
A vozinha teve que se reinventar.
Quando sua netinha nasceu, que momento mais lindo, foi.
Mas foram poucos momentos lindos com ela por perto.
Afinal , avozinha não sabia respeitar as regras da filha.
Aquele momento lindo de gritar para todo mundo ouvir:
-Minha neta nasceu!
Não foi permitido.
Aquele outro momento de querer mostrar para a família a beleza da nossa netinha.
Não foi permitido!
Aquele momento de registrar cada gesto, carinho. 
Registrei alguns, mas fui rechaçada por isso e muito mais. 
Aos poucos ,não podia mais ter o brilho do olhar da netinha amada.
Só quando era permitido. Muito raramente, ou quase nada.
Pegar no colo, acariciar, brincar?
O que é isso?
Você vai deixar minha filha doente!
Você não me respeita, mãe!
Era assim, é assim.
Cada gesto de amor, era visto como uma intrusa.
Era visto como drama pelos pais da minha netinha.

No início, essa avozinha ajudava, mas não podia chegar perto sem permissão.
Então ela ficava bem longe, esperando ser chamada.
Afinal de contas, tudo podia melhorar.
Então, ela ainda esperava.
E o tempo foi ficando longo.
Até se tornar visita na casa de sua filha.

De repente, sua netinha irá para a escola, e será cuidada por estranhos, poderá ser acariciada por estranhos, tomará banho com estranhos, poderá ser ninhada por estranhos, e a avozinha, não pode pegar no colo, nem acariciar. só pode estar com ela de longe.

Aquele sentimento lindo , ainda esta guardado só para nossa netinha.
Tenho certeza que um dia ela vai querer brincar com essa avó, que no caso sou eu.
Ai , meu mundo dos sonhos voltará a encantar todos os cantos.
Por enquanto, aprendi a ficar longe.
Aprendi a ser o que eu jamais pensei que fosse ser:  - A visita.

E Deus esta me ensinando que tenho filhos lindos me esperando em casa.
E viver pelos dois, com maior amor do mundo.
Posso irritá-los com minhas brincadeiras, mas sou eu.
Posso cantar minhas músicas favoritas, e ser eu mesma com eles.
Bagunças ainda fazem, mas estão aqui.
Eu só peço a Deus que eles aprendam a viver conosco mesmo se forem embora.

Era uma vez uma avó cheia de sonhos...
Essa avó que é mãe de dois lindos, e tem um esposo lindo de morrer...
Sou eu!

Deus Permaneça na minha vida!
Nossa Senhora tende misericórdia de nós.